A Instituição da Presidência – ou: O Futuro do Poder Executivo

eu já fiz alguma anotação sobre isso, em algum lugar

no futuro

o presidente

vai ser um cara contratado

e não vai ser um político, pelo menos não como hoje

ele vai lá ser uma espécie de diretor

o mesmo cara vai ter governado a frança, o canadá, por ter feito um bom trabalho no brésil

se isto é bom eu não sei

mas é assim que vai ser

você passa de um rei católico

de mandato divino – através do leviatã de thomas hobbes –

pra um representante suposto do povo, que só representa a oligarquia econômica

e finalmente

não precisa mais arcar com os custos da mentira – que era um dos suportes da política –

e você fica só com o financeiro;

os burocratas da União Européia, não são eleitos e nem sequer precisam dar entrevistas ou se justificar.

o caminho já está aí.

não significa que os dois pilares da política moderna – financeiro e pilar das mentiras – acabarão, apenas que o pilar ‘mentira’ não custará mais tão caro

é redução de custos

você aplica o socialismo ou social-democracia como um pitch de vendas

na prática, você tem um capitalismo livre de toda regulamentação, ou livre de toda real regulamentação necessária contra monopólios

então

em um segundo momento

você tem bilionários que fizeram tanto dinheiro

que não precisam, não querem

estar à mercê da flutuação do mercado

eles passam a favorecer políticos que criam políticas que engessam seus concorrentes – o verdadeiro capitalismo de estado, vide modelo chinês –

então você tem uma social-democracia

liberal em costumes, mas só até uma parte aceitável, que pode ou não progressivamente aceitar liberdades de costumes, contanto que seja lucrativo, porque na realidade você nem se importa com isso realmente

e do liberalismo

você tira um partido socialista

exceto que agora

não são políticos, propriamente

são líderes de corporações multimilionárias

e o futuro

bem

o futuro é agora

e é mais negro do que qualquer tragédia do passado

tecnocracia é um termo pobre

mas é o que tem por enquanto

‘rafael, a coisa não tem solução, então?’

não

sinto muito

só é possível interagir num nível micro, e ser fiel ao Senhor no que diz respeito a carregar sua cruz pessoal e diária

todo santo católico sempre soube disso, e eu só aprendi a noção com eles

todo o mundo humano, a evolução política

é toda artificial

e assim como acontece com intervenção no mercado

toda artificialidade produz engessamento e pobreza

e assim aconteceu culturalmente e religiosamente

é tudo programado

e empobrece

sempre ocorre empobrecimento

quando o mundo corria de forma natural

sem que ninguém definisse a direção política da geração seguinte, e se preocupava apenas com a sua

havia abundância, riqueza, sobreganho

o conservador ressente isso, sem saber como dar voz a esta fala meio egoísta, sem parecer necessitado, mas mesmo sendo

por mais elegante que seja sua fala

Não é o Inferno de Dante – Canto I

   Morri.

  Pois é. Eis que morro.

   Sem um resquício de glória, apartado da Graça.

   Aqui não há a presença de Deus.

   Ele jamais descerá, Ele jamais terá um segundo pensamento sobre nós, que estamos aqui.

   Sendo Perfeito, Suas decisões são irrevogáveis.

   Estar nos círculos mais rasos da exclusão, não é especialmente excruciante. Tem um ar, um ambiente calmante, até.

    Ser um inimigo eterno de Deus tem lá uma calma conformista.

   Não tem mais volta, não tem remédio. E sabedoria de tia diz: “O que não tem remédio, remediado está.”

   A paisagem não é das piores. Tem até mesmo sua própria beleza. É erma, solitária, angustiante.

   Escura, acinzentada, enegrecida nos entantos.

   Aqui não há Graça, não há o mais suave Amor.

   Estruturalmente, não há diferença essencial entre este e o Inferno de Dante. Politicamente, é completamente diferente.

   Os traidores estão realmente nos círculos mais profundos e internos, dos quais nenhuma visão me é permitida, nem como consolo parcial.

   Os pensadores e cientistas que morreram sem Cristo estão realmente aliviados das eternas sevícias, mas privados da Visão Beatífica e felicidade eternas assim como as crianças que morreram sem batismo. Exceto que são dotados de consciência completa, sem o que elas.

   Ninguém aqui tem muito tempo a perder com o choro vizinho; ele se perde na distância, somos embriagados da própria tristeza, não temos muita atenção a prestar, não há tempo para confraternizar, não há tempo.

   Há um uivo eterno vindo justo da pedra ao lado, mas não há tempo para virar a cabeça em sua direção, a vista e a audição turvas pelo seu próprio sofrimento.

   É possível, às vezes, levantar a cabeça e enxergar olhares compassivos vindos dos olhos dos santos do céu, mas isto é tudo que recebemos de lá.

   Nossos nervos não são mais suscetíveis à brisa quente na pele, somente à dor das pontas do tridente na carne.

   Nenhuma nota musical afina sobre nossos orifícios auriculares, mesmo que a música seja incessante.

   O frio não passa, mesmo que nossa carne esteja queimada e desfeita em combustão.

    A pouca luz machuca os olhos, e não deixa discernir os contornos com precisão alguma que seja.

   Vales tenebrosos se aprofundam, e a ameaça de queda é falsa e constante. Mentirosa e contínua.

   Os desenhos são cortantes e espetados, e estão sempre mais perto do que parecem.

     Aqui, ainda há sangue respingando. Mesmo que sangue sem vida.

   Não há gravidade agindo sobre os corpos e, no entanto nossos labirintos auriculares ainda procuram chão e estabilidade gravitacional.

    O reflexo do fluxo de vômito nunca se efetiva.

   A dor de cabeça não passa, lateja, dói demais.

   O sorriso do diabo, somente, mormente te alivia a maior parte do dia para que o impacto momentâneo seja maximizado. Na hora que sorrir.

   Aqui, os rios passam à frente a ilusão heráclitica de que fluem eternamente, sempre diferentes, sempre outro rio. Mas é sempre o mesmo.

   Convoluem – convolvem – dentro da pedra, e dentro da outra, e saem na mesma, e voltam para a outra mesma. “Quando um tetraplégico some, onde você o acha? No mesmo lugar onde o deixou.”
Aqui todos têm a mesma idade. A idade da morte. Ninguém nasceu; todos estávamos mortos; e morrendo.

   Vem o vento, em versos aliterados, semi-assassino. Quase.

   E inferniza.

   Aqui, os homens masculinos e capazes são obrigados a assistir um aleijado e demente, efeminado, rico e cheio de joias, sem o mínimo grau de moralidade, ser cortejado e servido pela moça de seus sonhos; sentado, deitado, bufando e piscando. Entediado.

   Aqui nada satisfaz; aliás, nada jamais satisfez em lugar algum. Morri, e morri com Schoppenhauer, em vez de morrer com Deus.

   Bendito seja Este, agora Surdo.

   O fogo é mais quente que na mais quente fornalha terrena, e queima sozinho, por gosto próprio.

   Ao contrário do Inferno esotérico de Dante, n’aqui o conhecimento não é especialmente renumerado, exceto pela proporção do esforço e benefício altruísta causado. Nos círculos mais amenos. Como já dito.

   Aqui, existe uma incerteza eterna, completa insegurança, sem origem nem fim, pungente, que é incerta em si mesma, de seu conteúdo. Só que bem sólida.

   Aqui, no Inferno escuro e cinza, você não é realmente nada.

   Oblivion. Minha palavra favorita na língua inglesa.

   Não existe paralelo perfeito em português. A tradução mais próxima é “inexistência”, mas o paralelo é pobre. Combine, oco, vazio, existência com inexistência, então terá.

   Aqui, você nem sequer pode deixar de ser, imortal idiota.

   Fui ao Inferno e voltei, eis o que vi. De certa forma, ainda estou lá, eis o que vejo.

   Aqui, Cristo já passou e não irá voltar. Nunca mais este solo será pisado por Deus.